sábado, 29 de dezembro de 2007

Canto Natalino

Hoje esperaremos até tarde

Todos de sorrisos escancarados

De reencontro e abraços apertados

Enchendo-nos, e bebendo a vontade.

Hoje toda a noite é de se viver

E esperaremos. Será que ele vem?

Mas caso não venha, tudo bem.

Mesmo assim, temos cálices a encher.

Logo chega outra rodada de vinho

Esqueçamos este som já baixinho.

E cantemos todos até o delírio.

Antes que o ano novo, assim de mansinho.

Faça-nos ver ao passá-lo sozinhos

Que além da ilusão, a vida é martírio.

24/12/07



(Último post do ano. Seria estranho eu lhes desejar feliz ano novo, certo?)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O bloco (Ao amigo Sérgio Sampaio)

Pobre rapaz

De olhos fundos e muitos ideais

Já não se faz

Aqueles olhos brilhantes mais

Doido rapaz

Eu sei que já sabe dos dias contatos

E no nascituro já sentenciado

Deita e dorme menino, e vai

Ouça rapaz

Digo-te: As pessoas são os nossos problemas

Que julgam inferno as noites boêmias

E o seu coração de vidro quebrou

A marca no nosso rosto

É do seu beijo, rapaz.

Não apague as luzes

Pois a morte é certa.

Nossas idéias: As mesmas.

Nosso coração também já é outro.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Lembranças

Lembranças

I – Do lado de cá

O tempo revira-te inteiro e brinca sutil com seu avesso. Você, insone, vê passar noites e as vira. Nos avessos da noite que no sal das lágrimas e suor uivam, também uiva você à lua em delírio. Ainda que tudo volvesse ao antes-de-agora, mesmo se acordasse em estado de mera existência, tudo se perderia. Mesmo que não soubesse. Das cartas, dos versos, dos banhos frios e cigarros queimando seco sua garganta umedecdia à conhaque, a mais dolorosa é a simples razão, se tem mesmo uma. Sua cara corada, pigmentada de um rosa tão saudável quão caqui maduro já abriga um cadavérico semblante de sofrimento, ou ainda pior, de conformismo. Abriga as lembranças todas, como fossem muitas elas, em tão breve lapso. Ah! As lembranças... Ora, rapaz, sabe que nada te pode socorrer a não Sê-las. O quanto doem, o quanto ela te dói. Uiva à lua, urra em silêncio sua dor a cada gota derramada do sangue azul da esferográfica em contato com as linhas, onde escreve toda a angústia, e a lira delira palavras que seu estro transforma, e que grava com cólera, como se apunhalasse aquela idéia e a lembrança. Como ela te dói... A mulher que possui todos os sonhos, aquela que te espreme vagarosa e violentamente o peito. Estrela ofuscando a luz do mundo, e o fogo do sol. Encanta e queima. Ainda suas folhas estão brancas, muitas delas. E a única coisa que consegue escrever, que te vem de sua real vontade, cabe em poucas linhas do caderno-de-bolso: “Que a lembrança conserve o sabor do encontro, e até da despedida, assim como de tudo entre os dois.”.

II – Do lado de lá

A noite vira ao avesso seu sono bom e se sente violentada pelo seu escuro, que adentra seus pensamentos, como se em suas entranhas úmidas do desejo encontrasse refúgio não te deixando adormecer. E ele entende? Nunca entenderá. Exige agora, o rapaz dos versos, seu amor de imediato. E você entende? Nunca entenderá. O tatear da noite pelas palmas brancas de suas mãos criam uma necessidade plena, e a certeza nunca foi tão forte acerca de que o ama. O mensageiro que te leva a ele todas as noites e traz respostas, mero avanço da ciência transcrevendo palavras dosadas pela esquiva, pelo medo. Seus olhos abrigam todos os sonhos do mundo, seu coração, de todos, é o mais faminto. Fera selvagem, que voraz devora a carne, e te faz sentir satisfação de mera momentaneidade. Também tem suas lamúrias nos delírios da penumbra que cai sobre seu quarto tal qual treva, maldição-do-faraó. Nos mesmos avessos que te vira a noite, que vira a todas as cabeças aceleradas, desprovidas do direito ao gozo do descanso, vira você também, com sabe-se lá quantos rostos. Atrofiada dentro de si mesma, seu rosto pálido de tantos sorrisos e seu corpo saudável de tantos abraços, clamam compreensão no cair da alta madrugada. Insatisfação. Coração voraz. Cabeça de inúmeros sonhos. Acende a luz e na última tentativa de se encontrar por meio de alguém, abre um livro onde à caneta está escrito: "Que a lembrança conserve o sabor do encontro, e até da despedida, assim como de tudo entre os dois." E segue uma mera pretensão, que por cuidados não chegou a seguir o texto, mas na cabeça do rapaz, ali está em letras pouco maiores: Eu te amo.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Férias

Quero férias de mim.
Ainda não sei como me agüentam.
Com minha estranheza crônica,
E essa tosse de cachorro.

Quero ir pro Caribe, ou Hawaii.
Longe de qualquer lugar
Onde possa me encontrar.
Um lugar escondido de mim.

Tomar água de coco gelada
E desligar o telefone
Pra prevenir caso me ligue
Pedindo que eu volte.

E me poupe de dizer:
Acabou tudo entre nós.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Quase


Fora quase nada,
E melhor que outros “quases”
Quase fostes.

Fora quase tudo
E qualquer "quase nada"
Fora menos nada tal qual fostes.

Fora tanto que quase,
E menos que fato.
Tanto que no quase ficastes.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Teus dias

Teu fim, tão breve e jovem, chega a ser belo.
Imagem congelada da beleza jovial
Sangra novo e cheira a juventude o que jorra de tua alma.

Visse a dor que tu causaste naquele jovem que te amou?
E é deste orgulho que morrerá, sem amor, murcha e chorosa.
No gangorrear da tua cadeira, vendo o outono passar.

Teu fim, este fim assim tão breve, que não leve então teu corpo.
Só leve de ti o amor, e teus sorrisos sem-graça.

E assim serão teus dias. Dias muitos.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Quinta feira

Nessas noites frias de neblina,
cantando os poucos decibéis de insanidade
de roucos tons desandados pela cidade
e uma canção com o nome daquela menina

Me traz uma breve aurora noturna
refuga me o medo de pernoitar sob a lua
a imagem tão bela ali santa e tão nua

Em frente a solitária praça escura
testemunhando essa noite vadia de rua
vagando sozinho sob a sombra sua

Nessas noites geladas sem céu estrelado
a aurora noturna que é tão repentina
que nem se percebe sem aquela menina
e me vejo aqui perdido e embriagado

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Enquanto dorme... ( 23/09/06 )

...E então me pergunta:
_Qual o porque dessa sua incessante busca?
Sem palavras eu hei de te responder .

Ao menos se eu tivesse como,
lhe diria da maneira mais brusca,
mas há tempos tento lhe dizer.

Se entendesse que isso e algo tão meu,
quanto toda estranheza que há em mim...
Entenda,só não quero soar vulgar.

Não sabe que esse é meu modo?
talvez não tenha de ser assim,
se percebe deixa se perder no ar

Todas palavras que cruzo por você
e o significado que tento forçar
que joga fora amargamente

Paro por aqui,mais uma tentativa se vai
com a convicção de que nem a lerá,
me despeço novamente.

domingo, 4 de novembro de 2007

Lapidações

Me lapido ouro-de-tolo
e em controvérsia grafo seu nome
preto em amarelo com linhas
ferindo, ardente, o meu.
Pouso o rosto sobre uma das mãos
e o dedo mínimo, seguido do anular tateam o roxo-preto da insônia.
Constante, penso: Quando virá, quem será.
E ao sentir o queimar da coronária
[re]construo toda uma imagem de alguém,
alguém que, profundo, conheço, mas não sei quem é.
Me lapido, agora, diamante.
Demasiado puro para macular-me em seu beijo.
Ou seria o contrário?
Ás vezes só almejo uma coisa:
Que nossos corpos abriguem os mesmos delírios
e reciprocamente proporcionemo-nos um incontestável gozo, um júbilo incessável.
O mais próximo possível do ser-feliz-em-excesso
Mas me lapido vidro, transparente, límpido
e não te lapidas.
E se faz, lapida-se pedra-sabão, escura, embaçada.
Indecifrável.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Pobrezinho milionário


reflexo de um sol estridente,cortante
invade, rasga e dá aroma à pele
aromatiza cada poro á carniça

Vira-lata, milionário e pobrezinho
cata-lata, vende-lata, fuma-lata
"Minha cobertinha velha ninguém rouba"

Descalço, de calos, calor calejante
busca no início, ainda, o sol
língua de cola, e quase sempre de fome

Filho do norte, filho da morte
vira-lata milionário pobrezinho
limpa o chão da praça suja com sua inocência

[ Dedicado ao pobrezinho milionário, Edson, e à Ana, minha amiga, irmã que estava presente no dia que encontrei Edson , e que também deu nome ao que eu escrevi sobre ele,]

domingo, 21 de outubro de 2007

Me deixe.

Me deixe aqui
com minhas lembranças,
que não faço mal a ninguém
senão a mim mesmo.

Me deixe aqui
como um dia já o fez,
escrevendo meus versos pueris
e tão fúteis.

Quero mais é lembrar.
Quero mais é sofrer.
Quero mesmo é encher o copo, a cara.
Quero mesmo é me encher de nós.

sábado, 20 de outubro de 2007

Sonata da luz da lua


Um som profundo e aveludado
faz formar inúmeras imagens
cada nota em suas margens
se fazem agressivas e apaixonadas

Um piano solitário
no centro do escuro salão
o ar da triste solidão
e a execução de um pranto raro

Rasga o vento com teu choro
oh,pianista e tuas mágoas
cada nota como a água
de teus olhos sem consolo

Dedilha estas notas que imagina
cada tecla uma parte de sua canção
dedilhando assim meu coração
faz o fundo de minha sina

Sei que choras como eu
mas teu jeito de chorar
senhor solitário,é tocar
bem mais belo que o meu

E ainda ouço a sonata morrendo...
pouco a pouco,em tuas mãos.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Poesia sem tema


Poesia sem tema
é como fogo que não queima,
queimadura sem dor,
teatro cheio sem ator.

Poesia sem ideia
é distração para meus demônios,
como cabeça vazia
que nos faz perder o sono

Poeta sem inspiraçao
é como judas sem perdão,
faz se carrasco e enforcado,
cruz e espada lado a lado

Poesia sem tema,
vem brotando da cabeça
de escrever seja de teima
algo,mesmo que entristeça


Quando a ideia é inexistente
mas o poeta persistente
acaba por se enganar
e percebe que está por uma linha de acabar

Acabar de escrever
assim,uma poesia
que fala sobre um poeta
que estava de cabeça vazia

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Irrelevante


[Que importância dou a mim?]


Pouco a pouco me desconheço,

um inexato,me incauculo,

e me mato


[Queimo aos poucos.]


Trago a trago

me trago e me levo,

me acabo,me irrelevo.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Causar dor


Causar dor dói mais.
Dói mais que doer.
É uma dor de culpa,
é uma dor sem cura.

Causar dor dói mais.
Fere mais que ser ferido.
É uma ferida onde
a mão não alcança e estanca

É a dor mais impura.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Incompleto


Terá maldição mais ferrenha
que aquela de não conseguir
entender letras que se desenha
num papel destinado a ti?

Um poeminho quebrado, sem rima
que tentara você escrever
jaz no lixo sem alguma estima
abortado, não veio a nascer

Órfãozinhos teus pobres versos
pobre poeminho inacabado!
desprovido de sentimentos espessos
no esquecimento então fora lançado.

domingo, 14 de outubro de 2007

Eu, por mim mesmo [ dedicada ao grande Torquato Neto ]

Certo dia em fevereiro
mais de um mês após janeiro
esperava o tempo inteiro alguém por minha chegada

e quando um anjo embriagado
veio e sentou se a meu lado
disse "amigo,vá agora pra esse mundo abstrato"

sem saber o que faria
pois em seus olhos eu via
olhos bêbados sinceros a lamentar por mim

com suas asas encolhidas
parecia chorar pela vida
onde nada acontecia até entao chegar o fim

certo dia em fevereiro
vi olhos tristes no espelho
olhos que eu sei que são apenas meus

vi que a água nos meus olhos
como sob o efeito do ópio
procuravam sem destino pelos olhos que são seus

logo me vem á cabeça
mesmo q um dia eu esqueça
do anjo decaído que a vida me lamentou

lamentou por minha vida
pois sabia que seria sofrida
conhecendo meu destino desde que você chegou


[ Que foto colocar ao falar de mim? Decidi colocar uma minha mesmo, então é isso. Esse aí é seu humilde narrador, caros leitores.]

Desgosto


Qual será o gosto de viver?Será o gosto azedo de ver passar o tempo, e não se orgulhar? Viver, de tudo, é o que mais dói; por isso apagar-se aos poucos é um processo ao qual eu devo aderir, assim morrem as estrelas. Quero extinguir-me na poeira estelar do cosmos da dor e da vida. Não tenho o que contar. Apago, aos poucos, a cada miunuto me dou um trago e me consumo. Tragado aos poucos , já quase no fim, aconselho que agora vá embora pois não quero que descubra que a vida não é ruim, não é boa, que a vida simplesmente não tem gosto.

sábado, 13 de outubro de 2007

Para falar de ti

Sucumbi à imagem do não viver
e pelo cadavérico semblante da morte
dei a mão e deixei me erguer

Me abstive de seu amor e segui
e por um precato medo dos simples erros
atrofiei minha mágoa sem ti

E para de ti falar,
Visto minha mais bela mortália,
preencho até o fim cada calha
de vinho tinto e lágrimas

Para falar de ti,
sigo cego tecendo meus versos
criando os meus universos
preso à roda do meu próprio tear

Pássaro cativo


Sempre que sou obrigado a esquecer, tenho que desenrolar o lenço em que guardo minhas lembranças para depositar ali mais uma delas. Eu sinto o cheiro de guardado dos recortes do passado, e acabo me machucando no corte fino destes papéis. Queimaria sem pesar, este lenço, com você e seus falsos sentimentos por mim, se tão fácil fosse esquecer por completo, e se eu não percebesse que sofrer de amor é as vezes uma sensação agradável e bonita. O que você não sabe, é que nunca vai conseguir sair de mim, do meu lenço guardado onde embrulho dores.E no seu espanto(ao refletir que dali nunca poderá sair) dirá: Não tem o direito de prender-me assim, onde já se viu tamanho absurdo? _ E já consolado, te responderei: O mesmo direito que teve você de me libertar, depois de ter me criado enjaulado em seu coração. Pássaros cativos, minha amada, não voam para a liberdade, pois esta é também, sem dúvida alguma, seu último vôo.

Domingos


Essa moda deprê juvenil
anda consumindo-me diariamente.
Tudo rápido, alucinado;
nada são, mas tudo salvo.
Minha estrela já passou da idade,
e ofusca uma fraca luz de cabaré, vermelha;
que não vê mais sentido algum
em simplesmente iluminar.
Tudo rápido e alucinado passa sem parar
e eu no simples dilema:
Qual modo é mais rápido e que dói menos?
Malditos domingos!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Gratidão dói


Vou dar a ti minha solidão
Como forma de agradecer
Pelos dias que me amou [ou ao menos disse amar]

Tens meus sonhos quebrados, então
Minhas dores e erros.
Desgraça.

If I ...
Se eu me apaixonar...
Would you promisse...
[ dói ]